(quando a vida nos engole)
Parece que para sermos poetas, temos de ser mortos.
Nada é maravilhoso. Nada é terrível. Tudo é medíocre-bom. Tudo é medíocre-mau. As construções mentais é que idealizam o maravilhoso e o terrível, esculpindo formas megalómanas na areia.
As construções mentais são como esculturas de areia. Quando a areia está molhada, parecem esculturas de pedra, mas basta vir uma onda ou uma tempestade para tudo ficar disforme e destruído. Da mesma forma, quando essas estruturas estão imersas em pensamentos ideais, elas vão parecer robustas e infalíveis. Se as tornarmos imersas, quanto basta, em pensamentos universais ou em não pensamentos, elas vão parecer extremamente frágeis e derrubáveis.
A (des)construção mental das nossas estruturas deriva de um trabalho de escultura. Nós, como escultores, temos de estar preparados para construir e destruir, até chegarmos à nossa melhor escultura possível.
Saber olhar para o que está entre o ser e o não ser, que é um tempo e um espaço intermédios e transitórios, é vertiginoso. Se olhamos para baixo, vemos um poço infinito e escuro. Se olhamos para cima, vemos o deslimite e o brilho ofuscante do céu. Tanto no claro como no escuro, a cegueira é permanente.