terça-feira, 23 de março de 2021

inflexões simples e diurnas

Quem somos nós e em que mundo nos regemos? No inteligível? No sensível? 

Quantas pessoas coabitam dentro de nós? Serão elas estrangeiras e desconhecidas ou almas gémeas? Será que se amam ou se odeiam? Serão todas elas verdadeiras? Ou meros caprichos do nosso ego? Serão ilusões criadas por nós para agradar os outros? Serão elas motivos de validação perante os outros?

O que são os outros? Quem somos nós perante os outros e sem os outros?

O que vale como verdade? E se a verdade existe, que tipo de verdade prevalece? A individual ou a universal? E será a mentira descendente da verdade?

Quem somos nós afinal? Onde nos posicionamos exterior- e interiormente no universo?


(palavras soltas)

segunda-feira, 15 de março de 2021

trajetos (des)encontrados

E assim vai a vida vida...

Seguimos em frente,

Voltamos atrás,

Viramos à direita ou à esquerda,

Paramos no STOP.

Entramos em contramão ou em sentidos proibidos,

Estacionamos em ruas sem saída.

Não sabemos direcções nem destinos finais.

Cometemos infrações,

Somos julgados,

Porém seguimos.


Não temos mapas,

Só intuições efémeras que nos guiam por atalhos, trilhos ou avenidas.

Oh! Como eu gosto das avenidas de passeios longos, largos e floridos...

De gentes de vários nomes e alcunhas,

Cujas caras sorriem simplesmente.

Oh! Como eu gosto de sorrisos sem interesses...

Sinceros e belos.

Como eu. Como tu. Como nós.



sábado, 13 de março de 2021

Crítica literária do meu primeiro livro por Altino Pinheiro

    "No meio de uma pandemia global uma rapariga é levada para um lugar misterioso do seu coração para confrontar sem medos alguns desconfortos existenciais, muitos deles esquecidos ou ignorados pela maior parte de nós que agora emergem das profundezas através da “(des) Fragmentação Emocional”. Esta rapariga é Cristiana Oliveira que se revela com uma coragem invulgar e derrama neste pequeno, mas poderoso livro, uma amalgama de sentimentos e reflexões que não deixam o leitor indiferente.  

    Á medida que avançamos nas páginas, desfolhando o sentido de cada um destes sessenta e seis poemas, deparamo-nos com um certo apego biográfico, despertando em nós o desejo de descobrir, quem sabe, mensagens encriptadas que podem dizer mais sobre a autora e a genuinidade dos seus sentimentos. Frases como: “ proclamar ao mundo o quão infeliz e insatisfeita sou” ou “ irei dizimar todos os sentimentos e mais alguns.”, revelam frontalidade e autenticidade. Conclui-se com agrado que a obra é um verdadeiro desabafo poético, confrontando os seus amores e desamores, abandonos e revoltas humanas, cada vez mais comuns nestes tempos modernos. Cristiana não só toca na ferida atual da sociedade, como ainda a espreme até a dor suprema. Evitamos, pois, sentir porque temos máquinas que sentem por nós; “ o sentir é muito complexo, dá muitas dores de cabeça”, acrescenta.  

    Ainda numa leitura superficial desta (des)fragmentação emocional, deparamo-nos com um tema que paira sobre muitas páginas, ora de forma abstrata, ora de forma discreta e aterradora. É a derradeira noite da vida, a morte!  Evitamos sem que possamos fugir dela, é o que nos propõe a autora, mostrando-nos a morte não como a fuga ao que sentimos, mas abraçando todo e cada sentimento, porque morto ninguém sente, seja o que for. Desafia-nos a aceitar a morte como impulso para a constatação de nós mesmos, por vezes de forma cruel, mas bastante poética como é o caso de; “É tão boa esta pequena morte”. 

     O livro está repleto de questões, em quase todos os poemas existem perguntas e dezenas de pontos de interrogação. “O que achas deste correr?” , “Será que sou visível?”, “Gostas dos meus piercings?” A obra de Cristiana é afinal uma autointerrogação, uma análise psicológica ás nossas emoções, porque em cada pergunta existe uma reação afetiva, uma ânsia enorme de respostas que para bem dos nossos males nunca chegam. Quanto mais perguntas fazemos menos respostas temos, esta é a dicotomia do pensamento humano e sabemos bem que; “Pensar dói. E com o passar dos anos , dói cada vez mais.” 

    Há nestas 71 páginas uma revolução sincera, um grito de liberdade, fragmentos de uma mulher que finalmente, de forma clara e até harmoniosa, consegue (d)escrever-se em papel e dar um bocado de si ao mundo. Uma partilha corajosa, por vezes difícil, mas que expressa bem as suas vivencias de amor, de paixão, de revolta e dor, com um caracter rebelde e preguiçoso ao mesmo tempo, mas humano acima de tudo."

quarta-feira, 10 de março de 2021

Tempos verbais (ir)regulares

Nascemos, vivemos e morremos.
Sozinhos ou sozinhas,
Sempre.
Não se conta outra história,
Não se narram finais felizes,
Só no amor,
No verdadeiro amor.

Quem ama, 
Não deixa.
Acompanha e fica.

Fica.
Fica aqui e agora,
Fica mais perto e mais junto,
Fica sem deixar,
Fica sem intervalos ou recreios.

Ficar:
Verbo regular,
Cuja estrutura apresenta uma ligeira irregularidade.

Será essa a falha de quem não fica?

E não deveria ser regular,
Ficar quando se ama?

O verbo amar é regular e não tem irregularidades.