quarta-feira, 2 de outubro de 2024

"Lá vem o poeta!"

Que poesia é essa que trazes nos olhos?
Que por onde passas,
tudo transformas em versos?
Estrofes neve ou cinza.
Sílabas ardentes e líquidas.

Que poesia é essa que trazes nas mãos?
Que onde tocas,
tudo transformas em música?
Cantigas de amigo ou de amor.
Cadências de soneto.
Locus amoenus orquestral.

Que poesia é essa que trazes no coração?
Que faz da sombra, luz?

sexta-feira, 27 de setembro de 2024

pedra de sol

resina: pedra de sol, cujo cheiro só se revela no leve toque das pontas dos dedos das nossas mãos.



quinta-feira, 26 de setembro de 2024

a sede da última gota

Que me importa ficar com lama!

Quem ama
vai ao fundo do poço
buscar a última gota d’água
que nunca apagará 
a sede
de quem verdadeiramente ama.

quarta-feira, 25 de setembro de 2024

Paixão e Amor


 consolatio 
(estar com na solidão)


Paixão é humano.
Amor é divino.

Paixão é carne.
Amor é espírito.

Paixão é fugaz.
Amor é eterno.

Paixão é música.
Amor é silêncio.

Paixão é incêndio.
Amor é brasa.

Paixão é selva.
Amor é jardim.

Paixão é banquete.
Amor é jejum.

Paixão é poema.
Amor é prosa.

Paixão é estar perto.
Amor é estar longe.

Paixão consome-se.
Amor contém-se.

Paixão resiste.
Amor persiste.

segunda-feira, 23 de setembro de 2024

a arte de voar

un beau jour, c’est l’amour
(Françoise Hardy, “Le temps de l’amour”)


ser pássaro: planar e voar em queda livre.

Perceber as diferentes intensidades da vida e as suas circunstâncias é perceber os vários graus de amor e liberdade. Escutar a verdade que nos é pedida e agir com diligência é uma graça.

terça-feira, 17 de setembro de 2024

o defeito do "amor fati"

Aceitar as circunstâncias da vida, por contrariedade, é como tomar uma dose de eutanásia, mas para uma morte lenta e dolorosa.

breve reflexão debaixo de um céu fechado

Gera-me uma certa estranheza observar como a vida continua, mesmo com tudo à volta a morrer.

De onde vêm as cinzas que caem no parapeito da minha janela? De quais eucaliptos? De quais famílias?  Quantas mais árvores e casas serão precisas destruir, para que o Desumano finalmente respire?

Chega a ser desconcertante olhar para um céu fechado, num amarelo apocalíptico, que estrangula o sol e aniquila o resto das cores que naturalmente iluminam a mísera condição humana.