sexta-feira, 23 de maio de 2025

correntes de vento

Eu…
ventania, vendaval,
rajada de vento fraco,
sopro que não sabe soprar.

Ela...
o teu imaculado vento suão. A tua aragem, a tua brisa, a tua respiração.

Porque buscas a tempestade, se já tens a bonança?

sexta-feira, 16 de maio de 2025

seres subliminares

o amor é a sublimação do desejo
Lacan


Será o amor uma mera sublimação do eu
Seremos mesmo capazes de amar o outro desinteressadamente?

terça-feira, 6 de maio de 2025

amor de pretensão

Como pode alguém tão insignificante como eu sequer pretender ser mais amada do que a Respiração? 

A ridicularização não está somente presente em todas as cartas de amor. Está também na crença de um amor não correspondido. 

Talvez o amor seja só isso. 
Um jogo efémero, libidinoso e pretensioso.

segunda-feira, 5 de maio de 2025

aurora sentimental

Há auroras que dissipam nevoeiros e esclarecem sentimentos. A de hoje disse-me que amar-te é um trejeito imperfeito meu.

quinta-feira, 1 de maio de 2025

a breve vida do mel

“É necessário que a infelicidade acabe, um dia.”
A breve vida das flores


Tudo é breve.
Tudo é leve.
Tudo é neve.

sábado, 26 de abril de 2025

uma menina do futuro visita uma menina do passado

Uma menina vinda do futuro presente visita uma menina que ficou no passado infantil. 

Ela encontra-se no recreio, sentada no chão alcatroado, em roda com amigos e amigas, com vestes de adolescente, e de cabisbaixo. A menina do futuro aproxima-se e chama-a. Ela olha-a, reconhecendo-a estranhamente. Tinham o mesmo nome. Sussurra-lhe palavras desconhecidas e inexistentes; palavras que ainda não aprendera. Ela não responde. Fica petrificada como uma pedra que se lamenta, mas ainda sem saber o que é o lamento, nem como se lamenta. A menina do futuro comove-se, afaga-lhe o queixo, e vai para a aula no seu lugar. 

Entra no Bloco A. Cheira-lhe a nostalgia. Perdida nas baças memórias, tenta perceber qual é a turma e a sala. Pergunta a uma das funcionárias. A sala era no piso principal (zero), e a aula era EVT. Empurra a porta entreaberta com receio, e senta-se com timidez. Dada a sua idade adulta, o professor pergunta-lhe quem é e o que faz ali. Os colegas olham-na em silêncio e com desdém. No entanto, a aula continua e a menina do futuro encontra-se no lugar da menina do passado. 

Assim, a menina do passado e a menina do futuro estavam em sítios diferentes, mas num lugar de solidão igual. O abandono familiar tirou-lhes tudo, inclusive a voz própria. E não há tempo nem sujeito verbais que as curem.

Este encontro onírico entre duas meninas é um encontro belo e melancólico. Belo pela estética revivalista e pueril. Melancólico pelo "mundo interno" vazio e estéril. No fundo, a menina do futuro já devia ser uma mulher, com M grande, pois só as Mulheres assim podem amar e ser amadas devidamente.

quinta-feira, 24 de abril de 2025

infortúnio

Futuro negado três vezes,
porque insisto?

(
                                            )

Talvez precise 
que os teus olhos
gritem: 
ODEIO-TE!

Só assim perceberei:
o único mundo a extinguir 
é aquele que nunca existiu
                                           — o ‘nosso’.