Uma menina vinda do futuro presente visita uma menina que ficou no passado infantil.
Ela encontra-se no recreio, sentada no chão alcatroado, em roda com amigos e amigas, com vestes de adolescente, e de cabisbaixo. A menina do futuro aproxima-se e chama-a. Ela olha-a, reconhecendo-a estranhamente. Tinham o mesmo nome. Sussurra-lhe palavras desconhecidas e inexistentes; palavras que ainda não aprendera. Ela não responde. Fica petrificada como uma pedra que se lamenta, mas ainda sem saber o que é o lamento, nem como se lamenta. A menina do futuro comove-se, afaga-lhe o queixo, e vai para a aula no seu lugar.
Entra no Bloco A. Cheira-lhe a nostalgia. Perdida nas baças memórias, tenta perceber qual é a turma e a sala. Pergunta a uma das funcionárias. A sala era no piso principal (zero), e a aula era EVT. Empurra a porta entreaberta com receio, e senta-se com timidez. Dada a sua idade adulta, o professor pergunta-lhe quem é e o que faz ali. Os colegas olham-na em silêncio e com desdém. No entanto, a aula continua e a menina do futuro encontra-se no lugar da menina do passado.
Assim, a menina do passado e a menina do futuro estavam em sítios diferentes, mas num lugar de solidão igual. O abandono familiar tirou-lhes tudo, inclusive a voz própria. E não há tempo nem sujeito verbais que as curem.
Este encontro onírico entre duas meninas é um encontro belo e melancólico. Belo pela estética revivalista e pueril. Melancólico pelo "mundo interno" vazio e estéril. No fundo, a menina do futuro já devia ser uma mulher, com M grande, pois só as Mulheres assim podem amar e ser amadas devidamente.