quarta-feira, 4 de dezembro de 2024

ataraxia apática

Do nascimento ao falecimento, 
a vida vai-nos ensinando a deixar
 - tudo e todos -
até a própria vida.

Deixar de: 
sorrir, olhar, tocar, falar, pensar, desejar, sonhar, gostar, amar, suspirar, respirar, viver.

A vida é um contínuo deixar.



terça-feira, 3 de dezembro de 2024

ver perto ao longe

Estar fora é estar dentro. É ver longe, mas perto. É ver o todo em vez das partes. É ver-te emoldurado no real, numa casa feliz, com mãos na porta e pés na laje. 

Eu, objeto invisível no meio da rua, passo pela tua casa. Parar ou seguir é indiferente. Tu não me vês. Ninguém me vê. E os meus gestos inúteis são espectros irresolúveis, pois nada possuo.

Como posso querer eu dar tudo sem nada possuir?
Como podem querer as minhas mãos vazias agarrar as tuas mãos cheias?

Ah, insatisfação poética, como me matas!

segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

nefelibata

tu que escreves sem sentir,
tu que escreves sem sorrir,
o que fazes 
    AQUI?

Escrever é sobreviver
à taciturnidade.
Se não sabes morrer,
não sabes viver.
Saber viver é saber
    m
    o
    r
    r
    e
    r

Senta-te e olha,
repara,
aquieta-te no silêncio,
pois é só aí
que te encontras
e que escutas 
[dentro de ti] 
o que é:
    verdade     e     mentira.   

Só assim é que vais respirar
    fundo
e tocar nas nuvens,
onde a tua essência 
    p a i r a
sem desaire,
pura e cálida,
como o primeiro
    sOl 
de inverno.