terça-feira, 27 de maio de 2025

porta-cofre

O pesadelo da tua ausência tornou-se infelizmente numa realidade concreta, vincada, apertada e sufocada. 

Há uma escassez e distância emocionais que ditam o quotidiano. Já não bebo a água do céu da tua boca. Já não como o mel das pontas dos teus dedos. Já não respiro ar poético dos teus decassílabos. Já não cheiro o pólen do teu peito espumoso. Já não vejo o brilho dos teus olhos-ria.

(já não e talvez nunca mais)

Estou desnutrida e vivo uma apneia funcional. Os meus sentidos apagaram-se perante uma vida e promissora e vibrante.

Mesmo assim, ainda tentei abrir a porta da sala poente, onde costumávamos ler poesia, mas tu trancaste-a a sete chaves. Bati, bati e bati. Nada se abriu. Tudo se fechou. 

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