É preciso arder. E não só nos versos.
Eugénio de Andrade
Assola-me ver a chama da paixão de frente.
Uma força repentina e imperativa que me arrasta para o paraíso, e logo, para o inferno.
Uma luz cega que só me deixa ver como as mãos.
Um calor intenso que me torna incandescente.
Depois do incêndio, eu, carbonizada, escrevo o teu nome no chão da lareira, na esperança que o ouças e tragas mais lenha. Na verdade, os dias sem ti são dias de inverno permanente e rigoroso. A casa treme tanto de frio que quase parece um terramoto. Está tudo a desabar, mas os alicerces do desejo mantêm-se cada vez mais fortes e robustos. No entanto, como sobreviver dentro de uma casa abandonada, ainda em construção? Onde estão as instruções para uma casa pré-fabricada?
O atropelamento das respostas pelas perguntas excede-me e anula-se, configurando o momento, onde reconheço a inutilidade das minhas equações e elucubrações; e onde reconheço ainda a barbaridade das minhas perguntas, pois não existem respostas.
Mesmo assim, atrevo-me a perguntar:
O que é afinal a chama da paixão?
Se é fugaz, será ilusão?
Se é obsessiva, será loucura?
Se é verdadeira, será amor?
. . .
Reação química ou não, o mandato é sempre o mesmo — a r d e r .
E tem de arder até ao fim dos fins, onde tudo recomeça para ser de novo.