Ontem, hoje e amanhã
José Cid
hoje
molhei os pés no orvalho
estendi a lã e a neve ao sol
abri as janelas do carro
contemplei um lago
exilei-me em páginas misericordiosas
vi a cauda da tua sombra
gritei o teu diminutivo
ouvi-te pela metade
e senti-te nas entrelinhas de um ramo despido
logo atirado para o monte das folhas caídas e esquecidas
agora
liberto as palavras exiladas do meu coração
para uma folha digital
e bebo um café
como se nunca nenhuma abelha
alguma vez tivesse pousado
no meu braço aromático