quarta-feira, 6 de novembro de 2024

cada pessoa, cada lugar

Cada um de nós tem o seu lugar no mundo e todos os dias assumimos isso, como se estivéssemos presos numa cápsula do tempo, enterrada na terra da ilusão.

O significado de cada nome próprio depende de quem nos chama e de como nos chamam. E isso determinará também o nosso lugar no mundo e no coração de cada um de nós.

segunda-feira, 4 de novembro de 2024

asas de zebra

"Tenho pena de ti às riscas": de como perdes as tuas penas riscadas nos limites das águas doces e salgadas.

Os salpicos do mar desenham as tuas asas-zebra,
com maciez,
e ajudam-te a voar com a leveza da seda.

Na praia deserta, 
por onde passaste,
caem chuviscos,
enquanto a brisa morna
aquece dois corpos interditos,
sedentos do sol ausente.

quinta-feira, 31 de outubro de 2024

somar/subtrair

 “Às vezes é mais fácil somar do que subtrair.”

Porém:
Não amar é mais fácil do que amar.
Não viver é mais fácil do que viver.
E morrer é mais fácil do que não morrer.

Viver, amar, morrer. 
Verbos de incalculáveis subtrações e divisões. 
Só somamos quando renascemos.

quarta-feira, 30 de outubro de 2024

estilhaços de vidro fosco

cabeça explode
coração implode
miolos estourados
lábios rasgados
dentes partidos
olhos exauridos


As palavras não ditas são como quadros poeirentos, nunca saídos do lugar, pendurados em paredes calosas e desmoronadas. Ninguém os contempla, ninguém os limpa. O quarto desarrumado e destruído é um prenúncio de exumação. As janelas e portas estão abertas, porque estão caídas. Não porque alguém as abriu. Ninguém quer entrar num quarto destes. Só o vento norte entra e limpa o cheiro nauseabundo da putrefação dos meus cacos.


Escombro meu,
Escombro meu,
Há alguém mais escabroso do que eu?


sábado, 26 de outubro de 2024

Como me dizes não a sorrir?

Como me dizes não a sorrir,
se o meu mundo está a ruir?

Como me vês a afogar,
e não me vens salvar?


(silêncio)
(coração nas mãos)
(silêncio)


Como num naufrágio interior morremos
e morremos e morremos e morremos...

E eu...
que estava tão pronta para (re)nascer, 
só me resta morrer.

sexta-feira, 25 de outubro de 2024

estrada larga

Por vezes, só quero que o meu horizonte seja uma estrada larga, longa, vazia, silenciosa, escura e chuvosa, para que os meus olhos cansados possam simplesmente repousar na doce melancolia de viver.

terça-feira, 22 de outubro de 2024

da semente à flor

As situações são como as flores. Desabrocham naturalmente e no seu devido tempo. Nada lhes apressa, a não ser a sua própria condição de florescer. Antes da defloração, ou se revelam sórdidos cravos-de-defunto, ou delicadas orquídeas. A única diferença é que as situações não precisam das estações do ano para se revelarem. Revelam-se, imperiosamente, a qualquer momento.