sexta-feira, 12 de setembro de 2025

evocação da romã

Evocamos o fogo
de chama lenta
ao comermos uma romã
com quatro mãos

Evocamos o desejo
de cor rubra
ao despirmo-nos de preconceitos
sobre o leito errante

Evocamos a paixão
de forte erupção
ao ofegarmos um pelo outro
no silêncio da escuridão.

Evocamos o amor
de sensações cálidas
ao auscultarmos o coração
sem a invasão da razão.





sábado, 6 de setembro de 2025

um lugar sem mim

olha para mim...

porque                                tão longe?

o que te faz ficar,
num lugar sem ardor?

porque me deixas assim,
sem início nem fim?


(Exercício de reescrita do poema "O lugar sem mim" de (des)fragmentação emocional, 2020.)

domingo, 31 de agosto de 2025

pré-autobituário

Sinto que só tenho mais trinta anos de vida, 
e que o único futuro possível é 
ser proprietária da minha morada final.

De que me importa viver, se quando morrer,
 vou estar entre as mulheres castrianas?

quarta-feira, 27 de agosto de 2025

quimera de uma xerezade

As mesquitas —
monstruosidades fabulosas
abóbadas caleidoscópicas
vitrais luminosos
arabescos dourados
minaretes líricos
— declamam o imaginário d'as mil e uma noites,
onde os hárens de seda e púrpura,
pervertidos pelos véus negros,
são o paraíso dos sultões.

As mesquitas —
criadoras do Ars Poetica,
cujas deslumbrantes perspetivas
cegam os olhos-burca,
decepcionados pela realidade
e apaixonados pela ilusão.


quinta-feira, 21 de agosto de 2025

Oh águas do Bósforo

Em cada uma das suas curvas, o Bósforo abre deslumbrante perspectiva e cada vez apresenta maior beleza.
Ferreira de Castro

 O espírito e a força de Istambul provêm do Bósforo.
Orhan Pamuk

Oh águas do Bósforo,
de onde vindes,
que banhais tantas conquistas e quedas?

Oh águas do Bósforo,
peneplanícies de quartzo,
quem te desenhou margens tão transparentes e dissidentes?

Oh águas do Bósforo,
luares de hüzün,
que kara sevda cantas?

Oh águas do Bósforo,
musa de Kemal e Melling,
porque provocas em mim uma doce ilusão?

Oh águas do Bósforo,
sentimento de verdade,
como abraças tanta alegria e tristeza?

Oh águas do Bósforo,
para onde corres,
sem a tua Constantinopla?

Oh águas do Bósforo,
deixa-me ser a Donzela eviterna na tua Torre de Leandro.











segunda-feira, 18 de agosto de 2025

Devia ter…

Devia ter ficado nas ondas…
no meio da espuma,
no meio do mar,
onde o teu corpo seria a tábua de salvação.

Devia ter saltado das nuvens…
por cima do sol,
por cima da lua,
onde as tuas mãos seriam o pára-quedas.

Devia ter ficado…
no abrigo do teu peito,
mas como a vida tem sempre razão,
enviou-me para o lado avesso do coração.