domingo, 30 de junho de 2024

a hipotenusa do sorriso

Há sorrisos que se entrecruzam no triângulo do mistério e assumem contornos infinitos, os quais excedem a condição da expressão humana e estremecem o Coração e a Razão.

Um sorriso implica distância ou proximidade e resguarda o que está por detrás disso - pensamentos, palavras, emoções, vontades, julgamentos, gestos... Há sorrisos que dizem, entre dentes, odeio-te ou amo-te. 

A interpretação do sorriso só é possível através da geometria do firmamento, onde a soma dos olhos e dos lábios é igual à hipotenusa do sorriso.

segunda-feira, 17 de junho de 2024

manifesto contra tudo e todos

Eu tenho a minha Loucura!
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios…
José Régio IN "Cântico Negro"


Hoje decidi escrever por escrever, sem forma nem conteúdo, porque cansei de pensar e de atribuir sentido a tudo o que faço.

A vida nunca é, nem nunca será como nós queremos, nem como imaginamos e/ou idealizamos. Seguirá sempre outros rumos, aos quais temos de nos adaptar, se queremos fluir com ela e não cair na loucura.

Será que as agruras da vida são sinais de que o caminho tem de ser outro? 
Será que o caminho mais difícil é o que está mais próximo do nosso propósito? Ou será o mais fácil?
Temos impreterivelmente de sofrer para sermos felizes?
Será que há caminho?
Será que há propósito?
Será que há algo mais para além da nossa mísera existência? Ou será tudo um grande delírio da mente humana?

Há mais perguntas do que respostas, por isso deixemos as perguntas, pois nunca teremos respostas, muito menos garantias.

A única garantia é a morte, mas nem aí encontramos as tão desejadas respostas. 

As respostas não existem. São espectros, por isso retiremos essa palavra do dicionário. É inútil! 
Acabemos também com a interrogação e vejamos como a vida se torna mais fácil. Nada fica em aberto. Tudo se fecha na afirmativa ou na negativa. Usemos apenas a exclamativa para festejarmos e gritarmos em regozijo.

Os extremos são sempre mais fáceis para efeitos de catalogação e a inexistência do questionamento alimenta a feliz ignorância.

Enquanto a verdade não chega, venha a mentira. Deixemos a purpurina cobrir os nossos corpos em putrefação e iluminar os meandros das nossas vidas terrenas e superficiais. Assim, o sorriso estará sempre garantido.

Considero este punhado de palavras, sem sentido, o meu manifesto contra tudo e todos, principalmente contra o que (supostamente) nos faz bem. Levanto a bandeira da felicidade, sem nunca baixar, ao jeito do facho ardente regiano (pelo menos assim o sinto). A tristeza é uma doença e hoje sinto, pela primeira vez, que não precisamos de passar por ela para sermos felizes. 

domingo, 16 de junho de 2024

tranquilidade (in)diferente

A indiferença pode vir também de um lugar de tranquilidade. Depois da guerra, apesar dos mortos e feridos, paira nos campos de batalha um silêncio brumoso e ensurdecedor. Metaforicamente, o cenário é mais ou menos este, após anos e anos de luta contra Deuses e Diabos, ditados e erguidos por nós mesmos. Por vezes, precisamos de nos devastar, brutalmente, por dentro para seguir em frente.

sábado, 8 de junho de 2024

o mistério do pôr-do-sol

O momento do pôr-do-sol é um momento mágico e trágico; especialmente, quando se está quase a pôr. É aí que o sol brilha intensamente, pois sabe que lhe faltam segundos para cair na escuridão. 

A linha ténue entre a luz e a sombra desenha o mistério do crepúsculo, com um traço delicado e sublime que, por sua vez, apaixona os amantes pela Literatura e pela Arte.

O limiar crepuscular é onde nasce a poesia etérea, que ascende e rasga os céus, com estrelas incandescentes. 

A lua revela a verdade das antigas constelações.

domingo, 2 de junho de 2024

Reflexão sobre o Lago de Engolasters castriano

Ferreira de Castro, Pequenos Mundos e Velhas Civilizações

Sempre que leio este parágrafo, algo em mim transcende; como se eu fosse a eterna protagonista de uma primeira vez, pelo menos assim o sinto. O único sentimento constante é a enorme vontade de viajar até ao lugar de Engolasters. Lugar com L maiúsculo, porque a escrita de Ferreira de Castro assim o determina.

Após releitura deste parágrafo, já com a consciência de que o poderia trazer para este momento ["Uma página de Ferreira de Castro - sessão de leitura", X Encontros Ferreira de Castro], fiz imediata e inconscientemente o paralelismo com a noite de hoje.

Tal como Ferreira de Castro, encontramo-nos hoje diante de um lago metafórico, grande e profundo, ou melhor, o legado castriano. E nós, somos as "estrelas do céu que efectuam idílicas reuniões como esta.". Lago esse, o castriano, que também e felizmente tem "mais astros", mais estrelas, mais pessoas, a cada noite que passa. Com isto, vamos descobrindo também "novas constelações, novos agrupamentos em êxtase", pela sua sincronicidade abismal entre o passado e o presente, e que nos une a Ferreira de Castro, ressignificando as suas palavras.

Hoje [31/05/2024], não tenho dúvidas de que sempre que cada um de nós lê Ferreira de Castro, há algo em nós que mexe ou que se inverte ou que sente a inversão do cosmos, tal como ele sentiu no Lago de Engolasters.