segunda-feira, 29 de julho de 2024

Domingos

Dizem que os domingos devem ser dias felizes, dias de sol. Dias em família, na praia, no campo, à volta de uma mesa farta, onde conversas flutuam musicalmente, como se estivesse tudo em perfeita sintonia.

Dizem que os domingos são dias, onde a melancolia não cabe. Para isso, temos o monday blues.

Dizem que os domingos devem ser isto e aquilo, mas pouco me importa o que dizem. A mim, o que me importa é o sentir e a poesia que daí vem.

Enquanto viver, farei da poesia o sol dos meus dias, apesar de todas as tempestades que ainda virão.

terça-feira, 23 de julho de 2024

o saber das almas

 O branco véu da saudade
Amália Rodrigues


Existem coisas que só as almas sabem.

Quando olho para o teu antigo retrato, sinto uma vontade indomável de fazer parte dele e de te amar profundamente. Olho-o fixamente e imagino-me lá, junto de ti, mas isso não (me) chega. Então, expludo em lágrimas de tristeza e desespero só de saber o desencontro entre duas almas, talvez, gémeas. 

Diante do teu retrato choro e pergunto: Quem seríamos nós vinte anos atrás? 

Ai! Que vontade inexplicável e estúpida de agarrar o teu sorriso, com as duas mãos, e apertá-lo como quem olha o sol de frente até cegar...

Parece impossível tanta saudade... Saudade de alguém desconhecido, saudade de algo nunca vivido, saudade, saudade, saudade, no seu estado mais puro, mais inconsciente e mais disruptivo.

As almas sabem mesmo de coisas que nos escapa.
A minha alma sabe de algo que nunca irei saber. 
A minha alma sabe de ti.

segunda-feira, 22 de julho de 2024

ares de praia

Canto porque o amor apetece.
Eugénio de Andrade


Os raios do sol alto, sobre o mar, são tão brilhantes que parecem pequenos diamantes. Abre-se um manto dourado, sob o qual sinto que posso caminhar e percorrer o mundo. Olho para o horizonte e não lhe nego o fim. Só o infinito me agarra e me faz viajar. De repente, dei a volta ao mundo sem tirar o corpo da areia. Ao longe, ouço o balançar das marés que embala a minha existência e o meu sentir. Um sentir despreocupado e veranil, de só querer sentir o vento nas rosas do meu rosto.

quinta-feira, 18 de julho de 2024

o(s) vale(s)

Respirar a sua imagem
É refrescar a plenitude do dia.
JCS


Os vales transmitem uma espécie de esperança que se renova a cada instante da rotação do sol e da lua. Uma esperança espraiada sobre os verdes claros e escuros. O fulgor das cores está no coração de quem vê o vale com olhos de sentir.

Os vales contêm todas as tonalidades da vida.

Loucos seremos nós, se não nos detivermos, por momentos, para contemplar um vale. Basta apenas um vale para percebermos o que realmente importa. Basta apenas o vale para dar a volta ao nosso mundo, onde (re)encontramos e desenterramos pequenos mundos e velhas civilizações.

domingo, 14 de julho de 2024

brisavento

O sussurro do vento trazia uma intimidade que se revelava, em surdina, pouco a pouco, diante de nós. Uma intimidade leve, mas intensa, como se os corpos já se reconhecessem na dança do vento. O junco, que acompanhava essa dança, permanecia prostrado, nu e singelo. Uma abelha pousou delicadamente sobre as peles quentes e doces. Tudo parecia em perfeita sintonia, onde o horizonte infinito fechava os olhos e respirava fundo para ouvir o bater dos nossos corações.

segunda-feira, 8 de julho de 2024

platonismos

P'ra todo o sempre eu viverei na fantasia
Capitão Fausto


O talvez é o gatilho para o milagre ou para a desgraça. É a fronteira entre o Tudo e o Nada, entre o Possível e o Impossível, entre o Sim e o Não, entre a Vida e a Morte.

O talvez é o Lugar, onde a poesia baila, com os seus plissados, que abrem e fecham conforme a intensidade.

O talvez é a tal vez, onde a magia do mistério paira como um manto de diamantes, os quais se transformam em estrelas cadentes. Elas viajam entre si, sem nunca se tocar. Se elas se tocassem, explodiriam e nunca saberiam como amar na distância e no silêncio. É também por isso que a Via Láctea é a maior declaração de Amor (Platónico) de sempre.