sábado, 23 de novembro de 2024

fotodrama

Ontem fotografei o teu rosto com a minha retina. Um rosto belo, sincero, despojado. Um rosto sensível ao toque da poesia dos meus dedos. Bastou-me um disparo fotográfico para perceber a filosofia das rugas. Os caminhos que traçam e definem uma história sem mim. Durante a madrugada, fechei-me na câmara escura do meu quarto, luz vermelha e mórbida, onde o processo negativo-positivo revelou as cores verdadeiras do teu rosto. Hoje, à luz pálida da manhã, vi outras cores. Ainda verdadeiras, mas monocromáticas. Fiquei triste, pois só tirara uma foto e não sei se ainda terei tempo para mais. Queria tanto colocá-la na moldura da minha cabeceira, ao lado dos livros... Com as mãos trementes e tementes, coloquei a foto e a moldura na cápsula dos sonhos perdidos, debaixo do leito frio e funesto, onde sempre me deito sem nunca saber se acordarei amanhã.

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