Abro a janela e faço algo sem poesia dentro.
R. Rubus
Hoje acordei, sem fome de poesia. Como não habitual, não abri as janelas. Não quis que a chuva molhasse o soalho gasto nem que se adentrasse mais no meu coração também gasto. Melancolicamente serena, li cartas de amor de Höderlin e enfrentei A Tempestade castriana. Por acidente, encontrei poesia nas entrelinhas da prosa e fiquei com fome... "- Merda!", pensei dentro de mim, alto e bom som, apesar do silêncio pesaroso fora de mim. Só queria prosa, com frases simples e curtas, discursos directos, nada de complicado. Com a respiração descompassada, levantei-me sem tropeçar na fúria dos meus pés. Peguei no teu livro de poemas e li versos de quem ama "tão claramente" que como pode a minha escuridão ser tão ou mais clara do que esse amor puro e infinito? Fiquei com tanto nojo de mim que fechei imediatamente o livro num gesto de renúncia. A partir daí, decidi renunciar toda a poesia do mundo e atirar-me para uma cova funda sem sol, celebrando o funeral de mim mesma numa bela manhã de domingo.
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