quinta-feira, 21 de agosto de 2025

Oh águas do Bósforo

Em cada uma das suas curvas, o Bósforo abre deslumbrante perspectiva e cada vez apresenta maior beleza.
Ferreira de Castro

 O espírito e a força de Istambul provêm do Bósforo.
Orhan Pamuk

Oh águas do Bósforo,
de onde vindes,
que banhais tantas conquistas e quedas?

Oh águas do Bósforo,
peneplanícies de quartzo,
quem te desenhou margens tão transparentes e dissidentes?

Oh águas do Bósforo,
luares de hüzün,
que kara sevda cantas?

Oh águas do Bósforo,
musa de Kemal e Melling,
porque provocas em mim uma doce ilusão?

Oh águas do Bósforo,
sentimento de verdade,
como abraças tanta alegria e tristeza?

Oh águas do Bósforo,
para onde corres,
sem a tua Constantinopla?

Oh águas do Bósforo,
deixa-me ser a Donzela eviterna na tua Torre de Leandro.











segunda-feira, 18 de agosto de 2025

Devia ter…

Devia ter ficado nas ondas…
no meio da espuma,
no meio do mar,
onde o teu corpo seria a tábua de salvação.

Devia ter saltado das nuvens…
por cima do sol,
por cima da lua,
onde as tuas mãos seriam o pára-quedas.

Devia ter ficado…
no abrigo do teu peito,
mas como a vida tem sempre razão,
enviou-me para o lado avesso do coração.




domingo, 17 de agosto de 2025

horizonte de espuma

pés erguidos
para um horizonte de espuma
- marítimo e onírico -
onde a rebentação das ondas
espalha o canto marulhar
e devolve(-me) o teu corpo salgado
nas minhas mãos escamosas,
inabilitadas para o agarrar.

sexta-feira, 15 de agosto de 2025

domingo, 10 de agosto de 2025

pátio dos gentios

A arte de recomeçar 
Fabio Rosini


Porque hei-de ter pressa de viver, se o Amor dá-se
lenta-                                                          
                                                                     -mente.

(nãosedeveapressaroverdadeiro)
(se a d i  s    t     â     n      c       i        a não aproxima, não é Amor)

O que me for devido, 
ser-me-à providenciado,
tal como tem sido,
agora e para sempre.

O importante é não baixar os braços e agarrar a vida,
com humildade;
como uma oração viva
que musica a missão de toda a minha existência.

domingo, 3 de agosto de 2025

estrela com dentes

No céu negro e translúcido
explode uma estrela cadente,
torta e deformada.

Dilacerada pelo abraço,
rasga-se em duas,
desaparecendo como oiro líquido.

Despenhada das alturas,
desprende os olhares ansiosos e teimosos
do peditório dos desejos cósmicos.

Poderá ser uma estrela cadente: 
o anúncio do fim? ou, o princípio da perpetuidade?

sexta-feira, 1 de agosto de 2025

desabafo sobre uma pergunta retórica

Será hoje?
Amanhã? Depois?
Que importa?
Amanhã é igual a hoje
Amanhã já foi...
António Ferro


Pergunta: Quantos verões serão precisos para te ter?

Resposta: Todos, até eu morrer.