Estar só é estar com pensamentos. É olhar para eles como quem observa o Marão de frente, no infinito das suas sombras, que se esfumam em eufemismos sagrados. Espectros efémeros que deslumbram os sentidos e turvam a providência. Chama filosofal que inflama os laivos da existência, restando apenas a alma e a saudade.
domingo, 25 de abril de 2021
quarta-feira, 21 de abril de 2021
arautos da planície
O Alentejo é uma planície ao pôr-do-sol. O seu corpo sensual pousa levemente nas oliveiras, como uma pena de mel. Os ventos abanam os seus ramos e, com eles, dançam um slow na vacuidade da existência. Dançam, sorriem e brincam. Escondem-se num jogo carnavalesco e desigual. Escondem-se sempre. São velozes demais para serem apanhados. Como se corressem atrás da felicidade que, também, se esconde e nunca se descobre. Mascara-se nas entrelinhas da vida e nas intermitências da morte. Transmuta-se em raios de luz efémera que nos cegam e nos deixam desamparados nos fossos perenes do nosso âmago.
quinta-feira, 15 de abril de 2021
um devaneio pela manhã nem sabe o bem que lhe faria
De que me vale possuir pensamentos, se nunca os vou ver nem tocar? A génese da sua imaterialidade torna-os fugazes e incorpóreos. É como se não existissem, e se não existem, para quê dar-lhes vida? Uma vida artificial, representada pelo filtro da mente. Uma deturpação da realidade objetiva e vigente. Uma ilusão criada e vivida por quem os cria, os pensa e os sente. Uma desilusão sofrida. Um nada e um tudo que será apenas e somente para o emissor. O peso da individualidade carece de leveza e, para isso, a mente necessita de se tornar amorfa. O olhar só tem de ver aquilo que está à sua frente e conjugar o modo verbal presente, sem observações nem contemplações, muito menos, interpretações. Tudo isso é erróneo. Tudo isso é falacioso e pertence a um mundo onírico e irreal. Um outro mundo, onde ninguém vive.